quarta-feira, 19 de maio de 2010

Refletindo Sobre a Moda



Vertente de pesquisas, a moda desperta cada vez mais um interesse crescente, tanto de profissionais do setor têxtil como também de historiadores e sociólogos.
Este interesse se deve a variação de códigos que a moda veicula, possibilitando desvendar a dinâmica social.
A moda possui um significado cultural através do qual reproduzimos nosso sistema de relações sociais. Por ser um dispositivo social, ela orienta o comportamento e está presente na interação do homem com o mundo. (BLUMER, 1969)
Sendo uma das formas mais visíveis de consumo o vestuário desempenha um papel de extrema importância na construção social da identidade.
As teorias em torno da moda se proliferam entre o final do século XIX e o início do século XX.
A moda quanto sistema é um fenômeno que surge com a chamada “modernidade” no mundo ocidental e caracteriza o fim do consumo de pátina e a sua substituição pelo consumo do novo. Do ponto de vista histórico, ela surge no âmbito do vestuário, mas hoje se encontra instalada em praticamente todas as áreas da vida social.
A descoberta de que a terra se tornou mundo, de que o globo não se trata apenas de uma figura astronômica, e sim o território na qual os indivíduos se encontram relacionados e atrelados, diferenciados e antagônicos, surpreende e atemoriza, afinal estamos tratando de uma ruptura drástica nos modos de ser, sentir, agir pensar e fabular.
Dentro deste contexto a escolha do vestuário passa a ser um excelente instrumento de estudo possibilitando a compreensão de como os indivíduos interpretam determinadas formas de cultura para seu próprio uso, sendo uma das mais evidentes marcas de status social e de gênero, útil, portanto, para manter ou subverter fronteiras simbólicas o vestuário constitui uma indicação de como as pessoas, em diferentes épocas, vêem sua posição nas estruturas sociais e negociam as fronteiras de status. Em séculos anteriores, a indumentária constituía o principal meio de identificação do indivíduo no espaço publico. Em determinadas localidades, dependendo do período, vários aspectos da identidade expressavam-se através do vestuário, entre eles estavam à ocupação, identidade regional, religião e classe social.
Recentemente, os estudiosos começaram a compreender o poder dos artefatos de exercer uma espécie de “poder” cultural, influenciando o comportamento e as atitudes sociais de uma forma que freqüentemente nos passa despercebida.
As variações na escolha do vestuário constituem indicadores sutis de como são vivenciados os diferentes tipos de sociedade, assim como as diferentes posições dentro de uma mesma sociedade.
Os cientistas sociais ainda não articularam uma interpretação definitiva de como o indivíduo constrói sua identidade social na sociedade contemporânea.
Afinal como construímos nossa identidade na sociedade pós moderna em que a todo o momento, somos bombardeados pelos mais variados tipos de informação? Do ponto de vista sociológico, a identidade se forma e se ancora no mundo social.
Quando este mundo que é a pós-modernidade, sofrem transformações rápidas e estruturais, o sujeito perde as suas principais referências (Hall, 2006).
As transformações bruscas da sociedade moderna estão fragmentando “a paisagem cultural de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que, no passado, nos tinham fornecido sólidas localizações como indivíduos sociais, estão também mudando nossas identidades pessoais, abalando a idéia que temos de nós próprios como sujeitos integrados” (HALL, 2006, p.9)
Do ponto de vista da psicologia para a formação da identidade o indivíduo necessita de uma constituição de valores e princípios norteadores na construção da diferença entre um indivíduo e outro. A identidade psicológica é gerada pela socialização e garantida pela individualização.
A estabilidade psicológica do indivíduo deve interagir com o processo de socialização.
Dentro deste contexto podemos compreender e analisar melhor os fundamentos da denominada crise de identidade pós- moderna, que tem como fundamentação a falta de referências estáveis. Mas como buscar valores e princípios estáveis em um mundo múltiplo e instável de total impermanência? Esse embate parece ter sido solucionado através da fragmentação da identidade, que permite diversos modos de ser (Nascimento, 2006).
Baseado nesta análise contextual conseguimos refletir sobre as motivações que levaram a sociedade atual a uma ramificação de nichos e tribos de valores e hábitos muito característicos. No mundo atual o consumo se tornou o foco central da vida social. É por meio do consumo que as pessoas comunicam seus valores e se diferenciam socialmente (BOSA, 2004) Os produtos se tornaram uma importante forma de reproduzir cultura e de relacionamento social, podendo traduzir maneiras de ser e de estar que dão um senso de direção pessoal e social ao indivíduo. Deste modo podemos afirmar que a moda é um importante suporte do indivíduo, na definição de seu ser fragmentado.
As roupas, como artefatos, “criam” comportamentos por sua capacidade de impor identidades sociais e permitir que as pessoas afirmem identidades sociais latentes. São estes apontamentos que os cientistas sociais observam para definir não só o que será tendência de comportamento mas também para apontar que rumos a sociedade tende a tomar quando insistimos em determinados valores ou os ignoramos, observamos em um contexto atual jovens pouco preocupados com questões sociais, políticas ou intelectuais e que supervalorizam a satisfação pessoal, este comportamento da chamada geração “y” vai contra os valores da geração de seus pais que tiveram que se preocupar com assuntos políticos e se fazer ouvir para deter a tão sonhada liberdade de expressão.
Lipovetsky (1989) refere-se à centralidade da moda nas sociedades contemporâneas, o que a constitui como força efetiva na produção e reprodução social.
Façamos uma reflexão, se a moda é uma forma de expressão da individualidade, o que definiríamos como individualidade hoje? Neste ponto novamente nos deparamos com a questão da identidade, para muitos estudiosos do comportamento do consumidor, como Hawins (2007), tudo começa com a auto-imagem, que por sua vez se forma dentro de um contexto social. Podemos definir a auto imagem como uma totalidade de pensamentos e sentimentos de um indivíduo em relação a si mesmo como objeto. A auto-imagem é de grande importância em todas as culturas, mas são os aspectos da personalidade que são os mais valorizados e mais influenciam o consumo. Dai podemos tomar como exemplo da nova concepção do luxo no contexto da sociedade contemporânea, o consumo, em especial o consumo de marcas de moda categorizadas como luxo, constitui um objeto de análise cada vez mais investigado, devido ao seu papel enquanto estruturador de valores que constroem identidades, regulam relações sociais, definem mapas culturais, o novo luxo está nas coisas simples feitas manualmente que agregam valores por contar uma história, o conceito de tempo também se encaixa nesta nova concepção contemporânea que caracteriza o luxo que está naquilo que é exclusivo, pessoal e intransferível e livre de cópias e reproduções, um desafio abraçado e almejado pelo imaginário coletivo.
Podemos então tomar a moda como uma espécie de gramática, uma transferência de significados simbólicos para produtos, pensemos na moda como um código ou linguagem que nos ajuda a decifrar significados, a manifestação cultural mais clara de um contexto social. Entretanto, ao contrário da linguagem, a moda é um código que depende de um contexto. Se para Lipovetsky a moda é a expressão da individualidade, pesquisas apontam que para camadas mais populares da sociedade moda é aquilo que todo mundo usa, principalmente o que seus grupos de referência usam.Refletindo sobre o equilíbrio entre o individual e o social, este pode se dar via pertencimento a grupos específicos de referência, possibilitando assim, uma certa unidade psicológica ao indivíduo. Ou seja, a moda, valorizada por um grupo de referência e seus lideres de opinião, pode proporcionar a identidade pretendida. O problema está quando não temos os tais líderes de referência ou aqueles que identificamos como “incompletos” com relação aos grandes ícones de épocas anteriores com valores morais e opinião fundamentada.
Os lideres da sociedade contemporânea são tão efêmeros quanto os valores desta mesma sociedade.
Fornecer ao sistema de classificação dominante o conteúdo mais adequado para valorizar o que se tem é uma forma de se criar uma identidade social que valorize quem determinou a classificação. (BOURDIEU)
A forma como o indivíduo representa a auto-imagem, é determinado por experiências de seu passado, de seus ícones referenciais. Um indivíduo ou uma sociedade que desconhece ou ignora sua história ou tem como ícones de referência indivíduos de valores efêmeros, é definitivamente uma sociedade em perigo.
Façamos então uma reflexão sobre nossos valores como sociedade e como indivíduos, quem são nossos ídolos e porque os colocamos nesta posição. Mesmo que para você a moda não tenha relativa importância, tenha em mente que certamente você servirá como referência no futuro, cabe então a cada um de nós construirmos uma imagem que em um futuro, acredite, nem um pouco distante, se guiará nas referências positivas ou negativas que estamos proporcionando, talvez os sinais que hoje passam despercebidos pela sociedade apontem para um futuro com muitos problemas que temos a possibilidade de resolver hoje, antes que eles cheguem, evitando conseqüências que talvez nem consigamos medir. Não se trata de previsões catastróficas, adivinhação ou palpite, se trata de comportamento, qualidade de vida, de arte, de sociedade, trata-se de ciência, estamos falando é de moda.

2 comentários:

  1. Oi, Letícia! Estamos tentando contato com você. Se puderes, envie um e-mail para anderson.rosa@paquetaesportes.com.br. Um abraço!

    ResponderExcluir